quinta-feira, 21 de abril de 2011

25 Abril

Era a esperança no futuro, foi sonho de um mundo onde quem trabalhava e produzia riqueza não fosse apenas um ser macambúzio, explorado e estupidificado por humilhações dos empregadores que agiam cobertos por leis próprias de um regime ilegítimo e imoral. Era a hora da conquista do respeito e da dignidade nos locais de trabalho.
Vieram direitos como a contratação colectiva, o salário mínimo, 13º mês, subsídio de natal, igualdade de direitos e salários entre homens e mulheres. Foram reconhecidas as licenças de maternidade/parto, assim como de paternidade. Regras sobre higiene e segurança no trabalho, medicina do trabalho, etc. Conquistas fruto da participação, da luta, da unidade e solidariedade entre trabalhadores.
Foi o reconhecimento da liberdade de participação sindical. Comissões sindicais e de trabalhadores foram criadas no interior de empresas, eram os interlocutores junto das administrações no diálogo de concertação de posições e nas denúncias de atropelos que os trabalhadores fossem vítimas. Os sindicatos ganharam força, abriu-se portas para que estes fossem agremiações de defesa comum dos trabalhadores, seus associados. Os sindicatos deixaram de ser organizações de um sistema corporativo do regime, onde a participação electiva dos seus filiados era uma farsa. Era o reflexo do 25 de Abril, da Revolução dos Cravos no mundo do trabalho.
Na passagem de mais um aniversário da Revolução dos cravos (37º) já é bem diferente a realidade no mundo do trabalho. A esperança no futuro deu lugar à insegurança. O capitalismo nacional, servido por uma classe política/governantes, e usando uma realidade internacional provocada pelo capitalismo selvagem e imperialista mundial, criou uma malha que aos poucos caçou direitos de quem trabalha. A precariedade e a insegurança reinam. Hoje em muitas empresas estamos mais perto do trabalho à “jorna” dos tempos do século XIX do que de um emprego com segurança. Os trabalhadores são alvos de coações e pressões de vária ordem. Os trabalhadores transportam tristeza do local de trabalho para casa, não se realizam profissionalmente e as doenças neurológicas são tristes realidades dos trabalhadores.
A precariedade, a repressão e a perseguição de que são alvos os activistas sindicais em muitas empresas, tornaram inactivas ou inexistentes as comissões sindicais ou de trabalhadores. Os sindicatos em grande parte são dirigidos pelas mesmas pessoas há décadas, dirigentes para quem a actividade sindical representa uma carreira e não uma missão de cidadania em defesa de quem trabalha, provocando o descrédito nos sindicatos por parte dos trabalhadores.
Nesta passagem de mais um aniversário da Revolução dos Cravos, façamos como os trabalhadores de Chicago em 1886 que se manifestaram por condições de trabalho e horário de turnos de 8h. Vamos gritar bem Alto, dizer que o povo trabalhador não é um povo resignado ou imbecilizado. O povo não está sonâmbulo, o povo não é burro de carga nem besta de nora. Digamos que não vamos mais ficar calados a aguentar feixes de miséria ou sacos de vergonhas, não somos como aqueles que nem as orelhas mexem para a afastar as moscas no local de trabalho, não somos como aqueles que não mostram os dentes, não têm a energia de um coice. Somos pessoas e queremos respeito. Vamos dizer ao capitalismo selvagem, aos políticos incompetentes e servis do capitalismo explorador que queremos ser felizes quando produzimos riqueza.
Em 25 de Abril de 1974, um grupo de heróicos CAPITÃES abriu portas para a luta com liberdade. Não deixemos fechar as portas que Abril nos abriu.

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